Dor: como compreender sua complexidade

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homem sentindo dor

A dor é universal, acomete todos os seres vivos, é uma sensação que transcende continentes, barreiras culturais, étnicas e sociais.

Desde os primórdios da humanidade, a dor tem desafiado a compreensão e intrigado médicos, cientistas e filósofos.

Neste artigo vamos explorar a sua complexidade, abordando também seus aspectos físicos, emocionais e sociais, bem como os avanços na compreensão e tratamento dessa experiência humana única.

A complexidade da dor

De um modo geral enxergamos a dor como algo simples. Por exemplo, uma pessoa torce o tornozelo e então sente dor. Ou seja, faz sentido presumir que se alguém se machucar seu corpo sentirá dor.

Mas e quando sentimos dor sem uma causa aparente? Há pessoas que afirmam senti-la, mas não conseguem se lembrar de uma lesão ou um motivo que a causou.

Há ainda pessoas que sofrem uma lesão gravíssima e, mesmo assim não são afetadas pela dor.

Um caso real que ficou conhecido

Um exemplo dessa situação aconteceu em 2003, Aron Ralston, então com 26 anos, estava fazendo uma caminhada solo no Parque Nacional Canyonlands, em Utah, nos EUA.

Uma pedra solta o fez cair em uma fenda profunda e prendeu seu braço direito na parede do cânion, impossibilitando que ele conseguisse se desprender, por mais que tentasse.

Ele gravou toda a situação. Fez vídeos como por exemplo, “Faz 24 horas que estou preso. Tenho me mantido acordado, mais para me manter aquecido do que qualquer coisa. Tenho cerca de 150ml de água sobrando, o que deve me manter vivo até amanhã à noite… se eu tiver sorte.”

As 24 horas se estenderam para 48, depois 72 e assim por diante. Ninguém sabia onde ele estava caminhando, portanto ele sabia que suas chances de resgate eram nulas.

Então, depois de cinco dias, ele decidiu que devia cortar o braço preso para conseguir sair. No entanto, ele só tinha uma faca de acampamento cega. Mas, mesmo assim ele conseguiu realizar uma exaustiva amputação. Em seguida, arrastou-se para fora da fenda rochosa e caminhou para um lugar seguro.

Isso é um exemplo extremo e dramático. Apesar da lesão e da dor, ele conseguiu descer de rapel a parede de um desfiladeiro de 20 metros e caminhar 8 quilômetros até um local seguro.

Mas, como é que as pessoas podem sentir a dor de forma tão diferente?

Fisiologia da dor

Quando damos uma topada em um dedo do pé dói muito, não é mesmo? Mas nós não nem sempre corremos para o pronto-socorro toda vez que damos uma topada no dedo do pé.

Algumas vezes, depois de dar uma topada com o dedo do pé, realmente pensamos que o quebramos, mas se não fizermos nada, alguns dias depois esquecemos que isso aconteceu.

Isso porque as experiências anteriores que tivemos ao bater o dedo do pé treinaram nosso cérebro para saber que a dor extrema que sentimos não determina necessariamente a gravidade da lesão.

A dor vai além dos sinais nervosos e sua intensidade pode variar de uma pessoa para outra.

A dor é frequentemente associada à transmissão de sinais nervosos, mas sua fisiologia vai além de meros impulsos elétricos.

Nosso sistema nervoso desempenha um papel essencial na detecção e transmissão da dor, envolvendo neurotransmissores, receptores e circuitos neurais complexos.

Compreender os mecanismos pelos quais a dor é percebida no nível molecular e celular é essencial para o desenvolvimento de abordagens eficazes no seu alívio.

mulher com dor

Conexão cérebro-corpo

A dor não é determinada em função de uma lesão específica que ocorre em um tecido. Como a sentimos e em que nível é uma decisão consciente do nosso cérebro.

Todos nós vivenciamos e lidamos com a dor de maneira diferente devido a padrões no cérebro e no sistema nervoso. Então, por que diferimos na forma como sentimos a dor? Por exemplo, por que uma pessoa pode sentir artrite articular grave com pouca dor e outra pessoa pode sentir dor intensa com artrite articular leve?

A intensidade da dor e a forma como o corpo responde a ela dependem de como o cérebro de cada pessoa a processa. Há pesquisas que demonstraram que muitas variáveis, incluindo estresse, ansiedade e experiências passadas, influenciam na resposta à dor.

Nossa infância pode ser um grande diferencial de como sentimos dor. Por exemplo, seus pais lhe disseram quando criança para “levantar-se, sacudir a poeira e voltar a correr” ou eles o levaram direto para o pronto-socorro após uma queda?

Avanço das pesquisas

Além disso, as pesquisas estão levando cada vez mais a uma compreensão diferente de como podemos retreinar nosso cérebro para ficarmos mais calmos em relação à dor.

As pesquisas contínuas na área da dor têm levado a avanços significativos no entendimento e tratamento dessa complexa experiência. Desde terapias farmacológicas inovadoras até abordagens não farmacológicas, como a fisioterapia e terapias cognitivo-comportamentais. Cientistas estão constantemente explorando novas fronteiras para aliviar o fardo de sentir dor.

Mas, apesar dos avanços, a melhor forma de administrar a dor continua sendo um desafio. Questões como o vício em opioides, disparidades no acesso ao tratamento e a necessidade de abordagens personalizadas destacam a complexidade desse assunto.

A colaboração interdisciplinar entre profissionais de saúde, pesquisadores e pacientes é fundamental para enfrentar esses desafios e melhorar a qualidade de vida daqueles que sofrem com a dor.

Sensações: caminho para o cérebro

Imagine a dor simplesmente como uma entrada para o cérebro. É uma sensação que a princípio você não sabe se isso faz mal para você ou simplesmente parece ser ruim.

Você bate o cotovelo na beirada da mesa e sente uma dor aguda. Você machucou o braço ou foi apenas porque bateu um osso sensível? Se você der ao seu cérebro um tempo para avaliar a lesão, você perceberá com calma que está bem e a dor desaparecerá.

Quando a mensagem de dor sobe por um nervo, o sinal viaja pela medula espinhal até o cérebro. É função do cérebro processar a entrada. Então, o cérebro processa as informações, levando em consideração suas experiências passadas, o ambiente no momento do evento, o estresse em sua vida e outros fatores.

Por fim, o cérebro envia um sinal ao seu corpo. A dor pode ser o sinal de saída ou você pode sentir um formigamento. Ao mesmo tempo, você está interpretando esses sinais e decidindo se deve ignorar o sentimento ou fazer algo a respeito. Se a sensação não parar e a dor for constante, então você deve procurar ajuda para saber o porquê e o que pode fazer para resolver o problema.

Dimensões emocionais da dor

A dor não é apenas uma experiência física, sua dimensão emocional é igualmente impactante. A relação entre a dor crônica e a saúde mental já é conhecida, evidenciando uma conexão intrínseca entre o corpo e a mente.

Por exemplo, a ansiedade, a depressão e o estresse podem amplificar a percepção da dor, criando um ciclo complexo que exige abordagens holísticas na gestão do sofrimento.

Influências culturais na percepção da dor

A forma como a dor é compreendida e expressa varia significativamente entre as diferentes culturas ao redor do mundo.

Fatores como crenças, valores e práticas culturais desempenham um papel essencial na forma como as pessoas experimentam e expressam sua dor. Entender essas diferenças culturais é fundamental para fornecer cuidados de saúde sensíveis e culturalmente competentes.

mulher com dor nas costas

Conclusão

Em última análise, a dor é uma experiência multifacetada que pode ultrapassar os limites tradicionais da medicina.

Compreender a complexidade da dor exige uma abordagem abrangente que incorpore não apenas a dimensão física, mas também a emocional e social.

Ao reconhecer a diversidade de experiências de dor e buscar soluções inovadoras, podemos avançar na melhoria da qualidade de vida para aqueles que enfrentam esse desafio crônico.

A dor ainda é a melhor proteção do nosso organismo contra possíveis danos sofridos. A dor nos alerta para o perigo. Por exemplo, ao pisar em um prego, sentimos dor e levantamos o pé. Se não tivéssemos dor para sermos avisados, não notaríamos o prego e continuaríamos andando, aumentando a gravidade.

É importante ouvir o nosso corpo e não ter medo da dor, isso porque ela nem sempre é uma coisa ruim. Na verdade, pode ser um bom indicador de que algo pode estar errado. Então, se você estiver sentindo dor, respeite-a, não tenha medo e procure atendimento e tratamento adequados.

A fisioterapia pode ser um bom recurso para ajudar a aprender a controlar a dor e a determinar seus motivos. Um fisioterapeuta pode ajudar a melhorar sua postura e fortalecer seu corpo, eliminando ou diminuindo o desconforto.

Por fim, se você sofre com dores não diagnosticadas, sempre consulte seu médico de confiança.


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