A combinação de alimentos realmente funciona?

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Combinação de Alimentos

A combinação de alimentos um método de nutrição que muitas pessoas estão usando com o objetivo de melhorar a digestão, a absorção de nutrientes e a saúde geral.

De acordo com esse método e para que ele tenha sucesso, devemos ingerir somente certas combinações de alimentos a cada refeição.

Mas, há alguma verdade nas alegações e nas regras de combinação de alimentos? Nesse texto vamos procurar esclarecer como ele funciona e o que você precisa saber antes de optar por essa dieta.

A combinação de alimentos funciona ou é apenas mais um modismo?
O que é combinação de alimentos?

A combinação de alimentos é uma opção de alimentação que permite apenas combinar alimentos específicos a cada refeição.

Em síntese, seu conceito se baseia em que diferentes alimentos são digeridos em taxas diferentes, têm diferentes tempos de trânsito no trato gastrointestinal e requerem diferentes níveis de pH.

De acordo com esse método, um ambiente ácido quebra as proteínas, enquanto um ambiente alcalino quebra os carboidratos.

Portanto, os adeptos dessa dieta afirmam que o consumo de alimentos ricos em proteínas juntamente com alimentos ricos em carboidratos provoca gases, inchaços, má digestão e má absorção dos nutrientes.

Com base nessas premissas, as dietas de combinação de alimentos propõem o consumo de alguns alimentos sozinhos ou em combinações distintas para que ocorra uma “digestão ideal”.

Os princípios da combinação de alimentos estão baseados na prática da medicina ayurveda (ou ayurvédica).

Ayurveda é um termo que tem origem no sânscrito e significa “ciência da vida”. Esse é o mais antigo sistema de saúde de que se tem registro.

Posteriormente a prática da medicina ayurveda foi amplamente usada na década de 1920 pelo médico William Howard Hay, criador da Hay Diet.

Hoje, essa prática voltou à moda e se popularizou através de famosos e influenciadores de mídias sociais.

Quais são as regras da combinação de alimentos?

Embora existam dietas distintas que combinam variações de alimentos, os conceitos e regras gerais são os mesmos, ou seja:

  • Ingerir as frutas sempre sozinhas ou com o estômago vazio;
  • Não combinar proteínas com amidos na mesma refeição;
  • Consumir amidos sozinhos ou com vegetais sem amido;
  • Ingerir carnes, laticínios, peixe e ovos com vegetais sem amido;
  • Comer nozes, sementes e frutas secas com vegetais crus.

Na realidade, dependendo da linha escolhida para seguir, existem gráficos detalhados para guiar pelas combinações de alimentos propostas.

O principal benefício apregoado pela dieta de combinação de alimentos é que ela tornará a digestão mais “eficiente”.

Isso pressupõe que ela melhorará a absorção de nutrientes, a saúde intestinal, aliviará os sintomas digestivos e aumentará o processo de desintoxicação.

Os defensores desse tipo de dieta baseiam-se nas seguintes afirmações:

  • Consumir proteínas juntamente com amidos ou frutas causará transtornos digestivos e prejudicará a absorção de nutrientes;
  • Combinações inadequadas de alimentos também podem “confundir” o corpo, pois diferentes alimentos exigem diferentes enzimas para serem digeridos;
  • A combinação “errada” de alimentos retardará a digestão e aumentará o acúmulo, a fermentação e a liberação de toxinas;
  • O estômago mantém o equilíbrio adequado do pH e a produção de enzimas com a ingestão adequada de alimentos;
  • Os alimentos que combinam requerem menos energia do corpo para digerir o que foi ingerido;
  • A combinação adequada de alimentos promove a perda de peso;
  • Combinações “erradas” de alimentos provocam doenças e enfermidades.
A combinação de alimentos tem base científica?

Infelizmente a ciência não dá suporte aos alegados benefícios da combinação de alimentos. Na realidade, as teorias que embasam essa dieta ignoram amplamente a biologia do corpo humano e do sistema digestivo.

A digestão é um sistema complexo composto por vários elementos que trabalham juntos para quebrar, digerir, absorver, assimilar e eliminar os alimentos que consumimos.

Os componentes do sistema digestivo funcionam em uníssono usando uma abordagem de cima para baixo, onde o final de cada etapa desencadeia a próxima.

Ao contrário das teorias propostas pelos defensores da combinação de alimentos, o que ingerimos não apenas “se mistura” no estômago. Contudo, ele percorre nosso trato digestivo, passando pela boca, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso e depois é eliminado.

Como funciona o processo digestivo?

Durante esse processo são desencadeadas reações de outros órgãos do nosso organismo. Fígado, pâncreas e vesícula biliar são acionados ao longo do caminho. Na realidade, apenas uma pequena parte da digestão ocorre no estômago.

O processo de digestão começa na boca. Isso porque o odor dos alimentos ajuda a desencadear a produção de enzimas salivares. Então, o processo de mastigar os alimentos estimula a produção de amilase. Amilase é a enzima necessária para a digestão dos carboidratos.

À medida que os alimentos continuam a se deslocar através do trato digestivo até o estômago, o organismo libera os sucos gástricos para ajudar a quebrar as proteínas.

Dessa forma, e o ambiente altamente ácido mata qualquer microrganismo contidos nele. Assim, combinado com a ação da enzima pepsina, resulta no catabolismo da proteína nos alimentos.

Durante esse processo, o estômago atua como um “tanque de retenção”. Então, ele transforma os alimentos em quimo (líquido pastoso) antes de entrar no intestino delgado. A seguir, o intestino delgado neutraliza o ácido do estômago e digere os nutrientes dos alimentos que a corrente sanguínea absorve.

Acontece que o intestino delgado libera apenas uma pequena quantidade de quimo por vez.

 Ao fazer isso, o fígado secreta a bile para ajudar a quebrar as gorduras e o pâncreas libera enzimas para quebrar ainda mais os carboidratos, proteínas e gorduras.

Portanto, ao contrário das teorias apresentadas pelas dietas que combinam alimentos, o trato digestivo do corpo humano é um sistema complexo. Assim, ele não precisa escolher entre digerir proteínas, amidos ou gorduras.

Além disso, a ideia de que a combinação de certos alimentos perturba o pH do sistema digestivo é errada e mal compreendida.

A alteração do pH do sistema digestivo é um problema?

Apesar de ser verdade que certas enzimas requerem ambientes de pH específicos para funcionar de maneira ideal, o consumo de alimentos mais alcalinos ou ácidos não altera significativamente o pH do trato digestivo.

Porém, não apenas as enzimas funcionam em diferentes áreas do trato digestivo. Mas também o organismo tem sensores que controlam o nível de acidez do trato digestivo.

Embora o estômago seja um ambiente muito ácido, com pH baixo, entre 1,5 a 2, ele se torna ácido quando qualquer alimento entra nele, não apenas as proteínas.

Dessa forma a acidez mata os micro-organismos, quebra os tecidos alimentares e ativa as enzimas digestivas.

Portanto, na medida que os alimentos se movem do estômago para o intestino delgado, o pâncreas libera enzimas com uma solução alcalina rica em bicarbonato.

Essa solução alcalina neutraliza a acidez do quimo do estômago e ativa as enzimas para quebrarem amidos, dissacarídeos, proteínas e gorduras.

Na verdade, o pâncreas libera essas enzimas em resposta à queda do pH quando o conteúdo ácido do estômago entra no intestino delgado.

Acontece que, ironicamente, quanto mais ácido seu estômago produzir, mais alcalina será a resposta do pâncreas. Assim, ele se torna um ambiente ideal para a digestão de proteínas e carboidratos.


Alimentos mal combinados aumentam as toxinas?

Quanto à alegada fermentação e ao acúmulo de “toxinas”, graças ao seu ambiente ácido, a fermentação não ocorre no estômago.

Acontece que a área onde a fermentação ocorre no trato digestivo é no intestino grosso e isso é uma coisa boa.

A fermentação natural de carboidratos não digeridos, especificamente fibra prebiótica (componentes não digeríveis da alimentação), permite a criação de bactérias benéficas conhecidas como probióticos.

Sendo que essas bactérias se mostraram incrivelmente benéficas para nossa saúde.

Ao contrário do que apregoam os defensores da combinação de alimentos, não há evidências para mostrar que ela ajude na perda de peso.

Segundo um estudo que comparou os efeitos de uma “dieta de combinação de alimentos” e uma “dieta equilibrada”, a perda de peso foi semelhante.

Ainda mais que a fisiologia da perda de peso se baseia no déficit calórico, não em um estilo alimentar específico ou combinação de alimentos.

Portanto, para sustentar uma meta de perda de peso ao seguir uma dieta de combinação de alimentos, também é preciso promover um déficit calórico.

Há algum benefício na combinação de alimentos?

Como resultado de adotar a combinação de alimentos, o único benefício realmente comprovado é que essa dieta estimula o consumo de alimentos integrais.

Pelo fato de promover uma dieta de alimentos integrais isso pode ser ótimo para a saúde geral. Embora ela não permita certas combinações de alimentos, pelo menos promove o seu consumo.

No entanto, a combinação de alimentos também tem desvantagens, pois ela provoca a eliminação de nutrientes importantes.

Isso porque as regras e orientações da combinação de alimentos se transformam em uma forma restritiva de alimentação.

Além disso, aprender as regras e ter tempo para aplicá-las a cada refeição pode se tornar muito tedioso e demorado. Também pode provocar hábitos alimentares desordenados.

Então, a combinação de alimentos não funciona?

Com base na teoria dos adeptos, infelizmente ela não funciona. No entanto tem havido muito pouca pesquisa direta sobre a combinação de alimentos e, consequentemente, há muito pouca evidência para apoiar essas alegações.

Há muito pouca evidência para apoiar as alegações de que a combinação de alimentos funciona. Portanto, se ela melhora a digestão, promove a perda de peso ou diminui o potencial de doenças, isso não tem amparo.

No entanto, se uma pessoa sente que as regras de combinação de alimentos funcionam para ela, certamente pode segui-las. Mas, não há benefício ou motivo para todas as pessoas aderirem a essa dieta.


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Principais fontes de consulta:
National Library of Medicine
National Institute of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases
ScienceDirect

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